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segunda-feira, 11 de abril de 2022

Debate de William Lane Craig com Barth Ehrman.


Em preto:  a fala de Barth Ehrman.
Em vermelhoWilliam Lane Craig
" Historiadores tentam estabelecer com suas capacidades o que provavelmente aconteceu no passado. Nós não podemos saber realmente o que aconteceu no passado porque o passado já passou. Nós achamos que sabemos o que aconteceu em alguns acontecimentos do passado porque temos algumas boas evidências para o que aconteceu, mas em outros casos nós não sabemos, e em alguns casos nós apenas podemos jogar as mãos para o alto, nos entregar e desistir.
É relativamente certo que Bill Clinton venceu a eleição presidencial americana em 1996. Poderá ser de alguma forma menos claro quem venceu a eleição seguinte. É perfeitamente claro que Shakespeare escreveu seus sonetos, mas existe um considerável debate sobre isto. Por que? Isto foi a centenas de anos atrás, e estudiosos surgem com opiniões alternativas. É provável que César atravessou o rio Rubicão, mas nós não temos muitas testemunhas oculares deste fato. Historiadores tentam estabelecer níveis de probabilidade sobre o que aconteceu no passado. Algumas coisas são absolutamente certas, algumas prováveis, outras possíveis, algumas são “talvez”, algumas não são prováveis.
Que tipo de evidências os estudiosos procuram quando tentam estabelecer probabilidades sobre o passado? 
Bem, o melhor tipo de evidência, claro, consiste de relatos contemporâneos aos eventos; pessoas que viveram próximas ao tempo dos acontecimentos dos eventos. Em última análise, se você não tem uma fonte que se encontra próxima ao tempo de ocorrência dos eventos, então você não tem uma fonte fidedigna. Existem apenas dois tipos de fontes de informações para eventos passados: ou relatos baseados em testemunhas oculares, ou relatos que foram inventados. Estes são os únicos tipos de relatos que você tem do passado – ou coisas que aconteceram ou coisas que foram inventadas. Para determinar que relatos correspondem de fato com o que aconteceu, você necessita de narrativas contemporâneas aos acontecimentos, fontes que estão próximas ao tempo de ocorrência dos eventos, e ajuda se você tiver muitos destes relatos. Quanto mais, melhor! Você precisa de muitos relatos contemporâneos, e você precisa que eles sejam independentes uns dos outros
Não te ajudará nada ter diferentes relatos que sofreram influências uns dos outros; você precisa de relatos que atestam independentemente os resultados. Além disso, mesmo que você precise de relatos independentes uns dos outros, que não foram influenciados por outros relatos, você precisa de relatos que corroboram uns aos outros; relatos que são consistentes com aquilo que eles têm a dizer sobre o assunto em questão. Além de tudo isso, finamente, você necessita de fontes que não sejam tendenciosas acerca do assunto. Você necessita de relatos desinteressados. Você precisa de muitos deles, você precisa que eles sejam independentes uns dos outros, e você ainda precisa que eles sejam consistentes uns com os outros.
Os evangelhos são boas fontes históricas?
O que nós temos sobre os evangelhos do Novo Testamento? Bem, infelizmente não estamos tão abastados quanto gostaríamos de estar. Nós gostaríamos de estar extremamente abastados porque os evangelhos nos contam sobre Jesus, e eles são nossas melhores fontes sobre Jesus. Mas o quão boas estas fontes são? Eu não estou questionando se elas são fontes teológicas válidas para assuntos religiosos. 
Mas quão boas historicamente elas são? Infelizmente, elas não são tão boas como nós gostaríamos que elas fossem. 
Os evangelhos foram escritos 35 ou 36 anos após a morte de Jesus – 35 ou 36 anos após sua morte, não por pessoas que foram testemunhas oculares, mas por pessoas que viveram depois. Os evangelhos foram escritos por pessoas altamente letradas, treinadas, fluentes em grego e que viveram em uma segunda ou terceira geração após a morte de Jesus. 
Eles não foram escritos pelos seguidores de Jesus que falavam aramaico. Eles foram escritos por pessoas que viveram 30, 40, 50, 60 depois. Onde estas pessoas conseguiram suas informações? Devo salientar que os evangelhos afirmam ter sido escritos por Mateus, Marcos, Lucas e João. Mas, isto é apenas em sua Bíblia em português. Estes são os títulos dos evangelhos, mas quem quer que tenha escrito o evangelho de Mateus, não o chamou de Evangelho de Mateus. Quem quer que tenha escrito o evangelho de Mateus simplesmente escreveu este evangelho, e alguém depois disse que ele era o evangelho de acordo com Mateus. Alguém depois está dizendo a você quem o escreveu. Os títulos são adições posteriores. Os evangelhos não são relatos de testemunhas oculares. Então, de onde eles conseguiram suas informações?
Após os dias de Jesus, as pessoas começaram a contar histórias sobre ele a fim de converter outras pessoas à fé. Eles estavam tentando converter judeus e gentios. Como você convence alguém a parar de adorar seu Deus para começar a adorar Jesus? Você precisa contar histórias sobre Jesus. Então você converte uma pessoa a partir daquilo que você diz. Esta pessoa converte outra que converte outra, e ao mesmo tempo as pessoas continuam contando suas histórias.
A maneira como isto funciona é assim: eu sou um negociador em Éfeso e alguém vem à cidade e me conta histórias sobre Jesus; a partir destas histórias, eu me converto. Eu digo à minha mulher estas histórias. Ela se converte. Ela então conta as histórias à nossa vizinha do lado. Ela se converte. A vizinha conta as histórias a seu marido. Ele se converte. Ele viaja a Roma a negócios, e conta a algumas pessoas lá estas histórias. Eles se convertem. Estas pessoas que ouviram as histórias em Roma, onde eles as ouviram? Eles as ouviram de um homem que morava perto de mim. Bem, ele estava lá para ver as coisas acontecendo? Não. De onde ele ouviu as histórias, então? Ele as ouviu de sua mulher. De onde ela as ouviu? Ela estava lá? Não. Ela as ouviu de minha mulher. De onde minha mulher as ouviu? Ela as ouviu de mim. Bem, de onde eu as ouvi? Nem eu mesmo estava lá.
Histórias estão em circulação ano após ano após ano, e em razão disto, as histórias são alteradas. Como sabemos que as histórias foram alteradas no processo de transmissão? Nós sabemos as histórias que foram alteradas quando existem numerosas diferenças em nossos relatos que não podem ser reconciliados uns com os outros. Você não precisa acreditar nisso porque eu estou falando; apenas confira por si mesmo. Eu digo a meus alunos que a razão de nós não percebemos que existem tantas diferenças nos evangelhos é porque nós os lemos verticalmente, isto é, do início ao fim. Você começa ler Marcos, o lê do início ao fim; então você lê Mateus, lê-lo do início ao fim, e Mateus soa muito parecido com Marcos; então você lê Lucas do início ao fim, e Lucas soa muito parecido com Mateus e Marcos; depois você lê João, um pouquinho diferente, mas soa igual com os demais. A razão é porque você os está lendo verticalmente. A maneira de enxergar as diferenças nos evangelhos é lê-los horizontalmente. Leia uma história em Mateus, então a mesma história em Marcos, e compare as duas histórias e veja o que perceberá. Você enxergará grandes diferenças. Apenas pegue o caso da morte de Jesus. Em qual dia Jesus morreu e em qual horário? Ele morreu um dia antes do pão da Páscoa ser comido, como João explicitamente diz, ou ele morreu depois dele ser comido, como Marcos explicitamente diz? Ele morreu ao meio dia, como é dito em João, ou às 9 da manhã, como dito em Marcos? Jesus carregou sua cruz sozinho por todo o caminho ou Simão de Cirene a carregou? Isto depende de qual evangelho você lê. Os dois ladrões zombaram de Jesus na cruz ou apenas um deles zombou dele enquanto o outro o defendeu? Isto depende de qual evangelho você lê. O véu do templo se rasgou ao meio antes de Jesus morrer ou depois? Depende de qual evangelho você lê.
Ou então pegue os relatos sobre a ressurreição. Quem foi à tumba no terceiro dia? Maria foi lá sozinha ou ela foi com outras mulheres? Se Maria foi lá com outras mulheres, quantas outras foram lá, quem eram elas e quais eram seus nomes? A pedra que lacrava o sepulcro rolou antes delas chegarem lá ou não? O que elas viram na tumba? Elas viram um homem, elas viram dois homens, ou elas viram um anjo? Depende do relato que você lê. O que elas disseram aos discípulos? Era para os discípulos permanecerem em Jerusalém e ver Jesus lá ou era para eles saírem e verem Jesus em Galiléia? As mulheres falaram com alguém ou não? Depende do evangelho que você lê. Os discípulos nunca abandonaram Jerusalém ou eles a deixaram imediatamente rumo a Galiléia? Todas as respostas dependem de qual relato você lê.
Você tem os mesmos problemas com todas as fontes e com todos os evangelhos. Eles não são relatos fidedignos. Os autores não foram testemunhas oculares; eles foram cristãos fluentes em grego que viveram 35 a 65 anos após os eventos que eles narraram. Os relatos que eles narraram são baseados em tradições orais que estavam em circulação por décadas. Ano após ano os cristãos tentaram converter as demais pessoas contando histórias sobre Jesus ter ressuscitado da morte. Estes escritores estão contando histórias que os cristãos estão repetindo por todos estes anos. Muitas histórias foram inventadas e a maioria das demais foi alterada. Por esta razão, estes relatos não são tão úteis como nós gostaríamos que eles fossem para propósitos históricos. Eles não são contemporâneos aos acontecimentos, eles não são desinteressados, e eles não são consistentes.
Mas até mesmo se estas histórias fossem as melhores fontes no mundo, ainda permaneceria um obstáculo principal que nós simplesmente não podemos vencer se abordarmos a questão da ressurreição historicamente mais do que teologicamente. Tudo bem para mim se Bill quiser argumentar teologicamente que Deus ressuscitou Jesus ou até mesmo se ele quiser argumentar que Jesus ressuscitou a si mesmo da morte. Mas isto não pode ser uma reivindicação histórica, e não pela razão que ele impôs a mim como um velho argumento do século XVIII que já foi refutado. Historiadores podem estabelecer apenas o que provavelmente aconteceu no passado. O problema dos historiadores é que eles não podem repetir um experimento. Hoje, se você quiser provar alguma coisa, é muito simples conseguir provas para muitas coisas na ciência natural; na ciência experimental nós temos provas. Se eu quisesse provar a você que barras de sabão flutuam, mas barras de metal afundam, tudo o que eu preciso fazer é pegar 50 litros de água e começar a jogar as barras. As barras de sabão vão sempre flutuar, as barras de metal sempre vão afundar, e depois de algum tempo teremos um nível do que podemos chamar de probabilidade, onde se eu colocar o ferro novamente, ele afundará novamente, e se eu colocar o sabão, ele flutuará novamente. Nós podemos repetir experiências naturais fazendo experimentos científicos. Mas nós não podemos repetir experimentos na histórica porque uma vez que eles acontecem, acabou.
Milagres são ocorrências improváveis em todos os casos?
O que são milagres? Milagres não são impossíveis. Eu não vou dizer que eles são impossíveis. Você pode até pensar que eles são possíveis e, se você pensar assim, então você vai concordar com meu argumento mais do que eu mesmo. Eu estou dizendo que milagres são tão altamente improváveis que eles são a possibilidade mais remota em qualquer instância. Eles violam a maneira como a natureza normalmente trabalha. Eles são tão altamente improváveis, sua probabilidade é infinitesimalmente remota, que nós os chamamos milagres. Ninguém neste planeta pode andar sobre as águas. Quais são as chances de um de nós conseguir fazer isso? Bem, nenhum de nós pode, então vamos dizer que as chances são de uma em dez bilhões. Bem, alguém supostamente consegue. Isto dado que as chances são de uma em dez bilhões, mas, de fato, ninguém de nós consegue andar sobre as águas.
E sobre a ressurreição de Jesus? Eu não estou dizendo que isto não aconteceu; mas, se a ressurreição aconteceu, isto seria um milagre. A reivindicação de que Jesus ressuscitou não trata apenas do corpo de Jesus voltar à vida; ele voltou à vida para não morrer novamente. Esta é uma violação do que naturalmente acontece, todos os dias, tempo após tempo, milhões de vezes por ano. Quais são as chances de uma ressurreição acontecer? Bem, isto seria um milagre. Em outras palavras, seria tão altamente improvável que nós mão podemos explicar este evento por meios naturais. Um teólogo pode dizer que a ressurreição aconteceu, e para argumentar com o teólogo nós devemos argumentar em terreno teológico porque não há bases históricas para argumentação. Historiadores podem estabelecer apenas o que provavelmente aconteceu no passado, e por definição um milagre é a possibilidade mais remota a se considerar. Sendo assim, pela natureza do canons da pesquisa histórica, nós não podemos reivindicar historicamente que um milagre provavelmente aconteceu. Por definição, a ressurreição provavelmente não aconteceu. E a história pode estabelecer apenas o que provavelmente ocorreu.
Eu gostaria que pudéssemos estabelecer milagres, mas não podemos. Não é por culpa de ninguém. Simplesmente os canons da pesquisa histórica não permitem que se estabeleça como provável a mai improvável de todas as ocorrências. Por esta razão, as quatro evidências levantadas por Bill são completamente irrelevantes. Não pode ser provavelmente histórico um evento que desafia a probabilidade, mesmo que o evento tenha ocorrido. A ressurreição deve ser considerada pela fé, não com base em provas.
Permitam-me ilustrar um cenário alternativo do que poderia ter acontecido para explicar a tumba vazia. Eu não acredito no que vou dizer. Eu não acho que tenha acontecido desta forma, mas é mais provável que um milagre acontecendo, porque um milagre, por definição, é a possibilidade mais remota. Então, deixe-me dar mostrar a vocês uma teoria, apenas uma que eu inventei aqui. Eu poderia inventar vinte destas teorias que são implausíveis, mas que ainda assim são mais plausíveis que a ressurreição.
Jesus foi sepultado por José de Arimatéia. Dois parentes de Jesus então ficaram irritados por um desconhecido líder judeu ter enterrado o corpo. No fim da noite, estes dois parentes roubaram a tumba, pegaram o corpo e o enterram eles mesmos. Mas os soldados romanos na vigília os viram carregando o corpo pela estrada, lutaram com eles e os mataram. Eles jogaram os três corpos em uma mesma caverna, onde depois de três dias estes corpos estavam impossíveis de seres reconhecidos. A tumba então está vazia. Pessoas vão à tumba e a encontram vazia, começam a pensar que Jesus ressuscitou dos mortos, e elas começam a pensar que o viram, pois eles sabem que Jesus ressuscitou, afinal a tumba está vazia.
Este é um cenário improvável, mas você não pode objetá-lo como impossível de ter acontecido porque não é. Pessoas roubaram tumbas. Soldados mataram civis com um pretexto mínimo. Pessoas foram enterradas em uma mesma caverna e deixadas à podridão. Não é provável, mas este cenário é mais provável que um milagre, que é tão improvável que você deve apelar para uma intervenção sobrenatural para fazê-lo funcionar. Esta explicação alternativa que eu dei a vocês – que não é a que eu creio ser verdadeira – é pelo menos plausível, e é histórica, em oposição à explicação de Bill, que não é uma explicação histórica. A explicação de Bill é uma explicação teológica.
A evidência de que o próprio Bill não vê sua explicação como histórica é que ele reivindica que sua conclusão é que Jesus foi ressuscitado da morte. Quem o ressuscitou? Bem, presumidamente Deus! Esta é uma reivindicação teológica sobre alguma coisa que aconteceu com Jesus. Trata-se de alguma coisa que Deus fez com Jesus. Mas historiadores não podem presumir crença ou descrença em Deus ao fazerem suas conclusões. Discussões sobre o que Deus fez são naturalmente teológicas, elas não são históricas. Historiadores, sinto em dizer, não têm acesso a Deus. Os canons da pesquisa histórica são restritos apenas ao que acontecem aqui neste plano terreno. Eles não podem nem pressupõe nenhum tipo de crença sobre o mundo natural. Eu não estou dizendo que isto é bom ou mau. Simplesmente é a maneira pela qual a pesquisa histórica trabalha.
Permitam-me lhes dar uma analogia. Não é ruim que não existam provas matemáticas para a evidência de uma polêmica antisemitista em O Mercador de Veneza. Matemática é simplesmente irrelevante em relação a questões literárias. Da mesma forma, as pesquisas históricas não podem conduzir reivindicações teológicas sobre o que Deus fez.
Em resumo, as fontes que temos não são tão boas quanto desejamos que elas fossem. As narrativas foram escritas muitas décadas após os fatos por pessoas que não estavam lá para vê-las acontecendo, que herdaram histórias que foram alteradas no processo de transmissão. Estes relatos que temos sobre a ressurreição de Jesus não são internamente consistentes; eles são cheios de discrepâncias, incluindo o relato da morte e ressurreição de Jesus. Mas existe o problema com o milagre. Não se trata do problema filosófico com o milagre discutido nos séculos XVII e XVIII. Trata-se de um problema histórico com o milagre, Historiadores não podem estabelecer milagres como ocorrência mais provável porque milagres, por sua natureza são as mais improváveis ocorrências. Obrigado!
Reposta:
Ao calcular a probabilidade da ressurreição de Jesus, o único fator que ele considera é a intrínseca probabilidade apenas [Pr (R/B)]. Ele simplesmente ignora todos os outros fatores envolvidos num cálculo de probabilidade.

 E isto é uma falácia aritmética. Veja:


  • Pr (E/B & R) é chamado de poder explanatório da hipótese da ressurreição. Pr = probabilidade. E=Explicação. B=conhecimento. R= ressurreição
  • Pr (R/B) é chamada de intrínseca probabilidade da ressurreição. Ela nos diz o quão provável a ressurreição é dado o corpo de informações que temos.
  • Pr (not-R/B) x Pr (E/B& not-R) representa a intrínseca probabilidade e o poder explanatório de todas as explicações naturalistas alternativas à ressurreição de Jesus. Pr = probabilidade. E=Explicação. B=conhecimento.  not-R=  não ressurreição

Em uma forma mais resumida:

Nós podemos ver isto ao olhar para a forma dos cálculos de probabilidade. Eles têm esta forma:
X= intrínseca probabilidade e o poder explanatório da hipótese da ressurreição de Jesus
Y, que representa a intrínseca probabilidade e o poder explanatório das explicações naturalistas para a ressurreição de Jesus
Observe que quanto mais próximo de zero o Y estiver, mais o valor deste cálculo se aproxima de 1, que na teoria de probabilidade representa “absoluta certeza”. Então, o que é realmente crucial aqui é a probabilidade de Y, que representa a intrínseca probabilidade e o poder explanatório das explicações naturalistas para a ressurreição de Jesus. Então, o Dr. Ehrman não pode simplesmente ignorar estas hipóteses inconsistentes. Se ele quiser explicar que a ressurreição é um evento improvável, ele precisa não apenas derrubar todas as evidências para a ressurreição, mas ele também precisa erigir um caso positivo em favor de alguma explicação naturalista alternativa à ressurreição.




Quando falamos sobre a probabilidade de algum evento ou hipótese A, esta probabilidade é sempre relativa a um corpo de informações de um contexto B. Assim, nós dizemos sobre a probabilidade de A sobre B, ou de A em relação a B.

Pr (R/C) é chamada de intrínseca probabilidade da ressurreição. Ela nos diz o quão provável a ressurreição é dado o corpo de informações que temos.
P= probabilidade
R= ressurreição
C= Conhecimento

Mas isto não é tudo. Dr. Ehrman apenas assume que a probabilidade da ressurreição em relação ao corpo de informações que temos [Pr (R/B)] é muito pequeno. Mas aqui, eu penso, ele se confundiu. O que, afinal de contas, é a hipótese da ressurreição? É a hipótese de que Jesus ressuscitou sobrenaturalmente da morte. Não é uma hipótese de que Jesus reviveu naturalmente da morte. Que Jesus ressuscitou naturalmente da morte é fantasticamente improvável. Mas eu não vejo nenhuma boa razão para considerar como improvável o fato de Deus ter ressuscitado Jesus de dentre os mortos.
A fim de mostrar que esta hipótese é improvável, você teria de mostrar que a existência de Deus é improvável. Mas Dr. Ehrman disse que um historiador não pode dizer nada sobre Deus. Portanto, ele não pode dizer que a existência de Deus é improvável. Mas se ele não pode dizer isto, ele também não pode dizer que a ressurreição de Jesus é improvável. Portanto, a posição do Dr. Ehrman é literalmente autocontraditória.
Hume, na verdade, não estava falando sobre o que eu estou falando. Hume estava falando sobre a possibilidade de milagres acontecerem. Eu não estou falando sobre a possibilidade de um milagre acontecer. Eu não aceito o argumento de Hume de que milagres não podem acontecer. Eu estou perguntando, supondo que milagres acontecem, os historiadores podem demonstrá-los? Não, eles não podem. Se Bill quiser mostrar seu cálculo matemático de possibilidades novamente, então eu sugiro que ele faça o mesmo em relação a outras opções históricas – por exemplo, aquela que eu propus de que dois membros da família de Jesus roubaram o corpo e que então eles foram mortos e lançados dentro de uma tumba comum. Isto provável-mente não aconteceu, mas é mais plausível do que a explicação de que Deus ressuscitou Jesus de dentre os mortos.
Deixe-me lhes dar outra explicação, uma que veio à minha mente ontem à noite enquanto estava sentando pensando sobre esta questão. Vocês sabem que nós temos de tradições cristãs sírias que dentre os irmãos de Jesus, que são mencionados no evangelho de Marcos, um deles se chamava Judas, que era particularmente próximo a Jesus e que um destes irmãos, Judas, também conhecido como Judas Thomas, era o irmão gêmeo de Jesus. Agora, eu não estou dizendo que isto está correto, mas é o que os cristãos sírios pensavam no segundo e terceiro séculos, que Jesus tinha um irmão gêmeo. Como ele poderia ter tido um irmão gêmeo? Bem, eu não sei como ele poderia ter tido um irmão gêmeo, mas era isto que os cristãos sírios diziam. Na verdade, nós temos histórias interessantes sobre Jesus e seu irmão gêmeo em um livro chamado “Atos de Tomás”, segundo o qual Jesus e seu irmão gêmeo eram gêmeos idênticos. Eles se assemelhavam em tudo e a todo o momento Jesus confundia as pessoas: quando eles viam apenas Thomas saindo da sala, lá estava ele novamente, e eles não entendiam. Bem, é seu irmão gêmeo aparecendo. Suponha que Jesus teve um irmão gêmeo – nada implausível! Pessoas têm gêmeos. Após a morte de Jesus, Judas Tomás e outras pessoas ligadas a Jesus se esconderam e ele escapou de Judá. Alguns anos depois um dos seguidores de Jesus viu Judas Tomás e eles pensaram que era Jesus. Outros começaram a relatar o mesmo. Começa-se então a se espalhar a notícia de que Jesus não está mais morto. O corpo de Jesus na tumba após o tempo se decompôs perdendo a possibilidade de ser conhecido. A histórica de que Jesus ressuscitou dos mortos começa a ganhar a confiança entre as pessoas, e nas tradições orais mais relatos começavam a ser contados sobre o caso, incluindo versões de que eles encontraram uma tumba vazia. Esta é uma explicação alternativa. É altamente improvável. Eu não apostaria nela por um segundo, mas ela é mais provável do que a idéia de que Deus ressuscitou Jesus de dentre os mortos porque esta hipótese apela para o sobrenatural, e os historiadores não têm acesso a isto.
E sobre o segundo ponto, e crucial, sobre a ressurreição de Jesus ser a melhor explicação para os fatos? Eu mostrei como o argumento baseado na probabilidade que ele deu por várias vezes em seus livros é falacioso. E ele diz, “Bem, Hume não está falando sobre meu argumento; ele está falando sobre a impossibilidade de milagres”. Isto é simplesmente um engano. O argumento de Hume é contra a identificação de milagres baseado em sua improbabilidade. E isto não responde ao meu ponto fundamental de que ele não pode dizer que a ressurreição de Jesus é improvável porque ele diz que historiadores não podem fazer julgamentos sobre este tipo de acontecimento. E mesmo que este evento fosse improvável, ele precisa considerar todas as outras evidências que contrabalançariam esta improbabilidade.
Agora, ele diz, “Bem, olhe para estas outras hipóteses. Talvez, por exemplo, familiares de Jesus roubaram seu corpo. Isto não é mais provável?“. Eu não acho. Observe que não há nenhum motivo neste caso para se roubar o corpo; os familiares de Jesus não acreditavam nele durante sua vida. Ninguém mais além de José e seus servos e as discípulas de Jesus sabiam onde o corpo havia sido sepultado. 
O tempo foi insuficiente – entre a noite de sexta e a manhã de domingo – para que tal conspiração fosse planejada e executada. 
Também, as roupas encontradas na sepultura desaprovam a hipótese do saque na tumba; ninguém iria despir o corpo antes de levá-lo.
Conspirações como estas sempre vêm à tona; os soldados romanos que guardavam a tumba ficariam felizes em informar aos líderes judeus o que aconteceu. E esta hipótese não explica as aparências de Jesus nem a origem da fé cristã na ressurreição de Jesus. Então, por todas estas razões, esta é uma hipótese improvável.
Em contraste, eu não acho que ele mostra nenhuma improbabilidade ao dizer que Deus ressuscitou Jesus de dentre os mortos. Tudo o que ele diz é que esta hipótese apela a Deus e que historiadores não podem inferir Deus. Mas lembrem, eu dei três respostas a esta questão. Primeiro, como na física, você não tem acesso direto às entidades explanatórias a fim de inferi-las. Segundo, todo o projeto do historiador é lidar com o passado inacessível, onde você tem que inferir acontecimentos baseando-se na evidência presente, mesmo que você não tenha acesso direto. E terceiro, este não é um debate sobre o que os historiadores podem fazer profissional-mente e sim um debate sobre se existem evidências históricas para a ressurreição de Jesus e as conclusões que nós podemos traçar. E mesmo que um historiador não possa fazer esta conclusão em uma publicação histórica ou uma sala de aula, ele pode aceitar esta conclusão enquanto ele volta para casa com sua esposa. E nós podemos aceitar esta conclusão se nós acharmos que as evidências são melhor explicadas desta forma, também. Em resumo, eu não acho que exista qualquer boa razão para pensar que as evidências históricas para a ressurreição de Jesus não sejam mais bem explicadas pela ressurreição.
Prosseguindo em sua análise sobre porque minha explicação alternativa não funciona, ele diz que a possibilidade dos familiares de Jesus terem roubado seu corpo é mais implausível do que a possibilidade de Deus ter ressuscitado Jesus de dentre os mortos. Por que? Eles não tinham motivo para isso. Bem, a verdade é que as pessoas agem por uma série de motivos, e motivos são coisas das mais difíceis de se estabelecer. Historicamente, talvez sua família quisesse que ele fosse sepultado em uma tumba da própria família. Ninguém sabia onde ele havia sido sepultado, ele diz. 

Bem, isto não é verdade; a verdade é que os evangelhos dizem que as mulheres observaram o sepultamento de longe, junto com a mãe de Jesus. Não havia tempo suficiente para isto acontecer. Aconteceu à noite. De quanto tempo alguém precisa? Isto não explica as roupas na caverna. Bem, as roupas na tumba provavelmente são um acrescimo posterior, uma lenda. Isto não explica as aparências de Jesus. Sim, pessoas têm visões o tempo todo.

 Uma vez que as pessoas começaram a acreditar que a tumba de Jesus estava vazia, eles começaram a pensar que ele ressuscitou dos mortos, e eles tiveram visões. Não estou dizendo que penso que isto aconteceu. Eu acho que é plausível. Isto poderia ter acontecido. É mais plausível do que afirmar que Deus deve ter ressuscitado Jesus de dentre os mortos. A ressurreição não é a explicação histórica mais provável. Notem que Bill teve mais cinco minutos para responder às minhas questões, e ele se recusou a fazê-lo; alguém poderia perguntá-lo por quê.

Ele diz, número quatro, que eu faço inferências duvidosas. Por exemplo, que uma vez que Paulo disse que Jesus apareceu, então existe uma tumba vazia. Eu nunca fiz tal inferência, neste debate ou qualquer de meus trabalhos escritos. Pelo contrário, nos meus livros meu argumento era que quando Paulo diz “e ele foi sepultado e ele ressuscitou”, nenhum judeu do primeiro século perguntaria, “mas o corpo permaneceu no túmulo?”. Para um judeu do primeiro século foram os restos da pessoa na tumba que ressuscitaram para a nova vida. A crença judaica para a vida após a morte era uma crença na ressurreição física do corpo ou do que sobrou dele, principalmente os ossos. Esta é a razão pela qual os judeus preservavam os ossos dos mortos em ossuários para a ressurreição no fim do mundo. Então, temos boas razões para acreditar na existência do túmulo vazio, e nenhum judeu do primeiro século poderia ter pensado de outra forma. Mas, certamente, dizer apenas que Jesus apareceu após sua morte não significa que esta aparição foi física.
Mas observem que Paulo distinguiu entre as aparições do Jesus ressurreto e as simples visões de Jesus. E eu desafiaria Dr. Ehrman a dar qualquer explicação sobre a diferença entre uma visão de Jesus, como aquela que Estevão teve (Atos 7:56), e uma aparição genuína do Jesus ressurreto, outra além do fato de que umas eram extra-mentais no mundo externo (aparições físicas) enquanto as outras (as visões) eram puramente intra-mentais.




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