Argumentos Cosmológicos da Existência de Deus: Existem 2 tipos de argumentos cosmológicos:
1- Horizontal- argumenta a partir da origem do universo. Estes são os 3 argumentos da causa primeira de Tomás de Aquino
2-Vertical --argumenta a partir da contingência, (e da mutabilidade do universo). Este é o argumento chamado kalam (eterno- em árabe)
O argumento cosmológico existe em duas formas básicas: a horizontal e a vertical. O argumento horizontal, conhecido como argumento “kalam” (palavra árabe com significado de “eterno ”), defende a existência de um Iniciador para o universo. Teologia sistemática. Norman Gesiler. rio da Janeiro: CPAD, 2010,p. 23
A forma horizontal do argumento cosmológico argumenta a partir da origem passada do universo até uma Causa Original (Primeira) para ele. Em contraste, a forma vertical do argumento cosmológico inicia com a contingência presente existente do cosmos e insiste que precisa haver um Ser atualmente Teologia sistemática. Norman Geisler. rio da Janeiro: CPAD, 2010,p. 25
Argumento Cosmológico Horizontal- kalan
Argumentos Cosmológicos Verticais- Tomaz de Aquino ( adaptados aos conhecimentos de Astrofísica modernos):
A.
CAUSA PRIMEIRA
Parece haver uma forma básica por trás de todos argumentos da causa primeira que têm apenas pontos de partida diferentes.
Cada argumento começa com alguma característica de existência (mudança, causalidade, contingência) e depois argumenta a favor de uma Causa Primeira:
1. Alguns seres dependentes existem.
2. Todos os seres dependentes devem ter uma causa para sua existência dependente.
3. A regressão infinita de causas existencialmente dependentes é impossível.
4. Logo, deve haver uma Causa Primeira não causada da existência de todo ser dependente.
5. Esse Ser independente é igual ao “Eu Sou” das Escrituras, o que explica a impossibilidade de existir mais de um ser absolutamente necessário e independente do qual tudo depende para existir.
1-PROVA PELO MOVIMENTO (MUTABILIDADE)
1a-Constatações Científicas
Lei de Lavousier: "Na Natureza nada se cria e nada se perde, tudo se transforma".
Lei da conservação da energia- "A quantidade de energia total do universo é constante"
1b- Argumento
É inegável a presença do movimento (MUTABILIDADE), isto é, a passagem
de potência (aptidão para tornar alguma coisa) para ato (estado do ser que
recebeu a perfeição para a qual estava em potência), em suas diversas formas: o
movimento local que é a passagem de um lugar para outro; o movimento
interior na qual uma substância se transforma quantitativamente ou qualitativamente(mudança
essencial); e ainda a mudança acidental (aquela que não afeta a
essência ), por exemplo, a troca da cor de uma parede.
Toda coisa que está em
movimento é movida por outra, direta ou indiretamente (Nada passa da
potência ao ato senão sob ação de uma causa que já está em ato, o que
significa que nada pode ser a causa de si mesmo). Então, torna-se necessário
chegar a um primeira causa, que não sofre a ação de outra. Ainda que se admita a eternidade da
matéria ou energia, ainda assim se
exigiria um primeira causa. Essa causa imóvel chamamos de Deus. Essa
imobilidade implica uma perfeição infinita, uma plenitude
de ser absoluta e assim eternidade, imutabilidade. Daí vem a famosa frase: Deus é puro ato.
Objeções:
1. B.R.
Tilghman argumenta que “Tomás não se
refere a uma causa que fez a primeira coisa entrar em movimento e que, depois,
parou de agir...Imaginemos Deus girando a manivela que faz a esfera das
estrelas fixas girar, e que esse movimento seja, por sua vez, transmitido às
esferas interiores e, sucessivamente até tudo que existe no mundo. Se assim
for, Deus está continuamente pondo energia no mundo. Mas não podemos
aceitar essa conclusão. Um princípio fundamental das ciências naturais é a lei
da conservação da energia, que afirma que a quantidade de energia no mundo é
constante. A física e a química têm essa lei como um dos seus pressupostos. Se
ela não fosse verdadeira, seria impossível haver essas ciências. Como essas
ciências existem, descrevendo e explicando com sucesso os fenômenos naturais,
somos obrigados a rejeitar a concepção tomista.” (Introdução `a Filosofia da Religião,
p.68-69.)
2.
Jonh Rick argumenta: “ O ponto fraco do argumento, tal como Aquino desenvolveu... consiste
na dificuldade de excluir, como impossível, um regresso sem fim de
ocorrências que não necessitam de um princípio” “O argumento apresenta, com efeito, o dilema:
ou há uma primeira causa, ou o universo é, enfim, ininteligível; mas
isso não nos impele a preferir uma ponta do dilema ao invés da outra.” (Filosofia
da Religião, p.35-36)
3. Kant
argumenta: “Supondo que haja fora do
mundo uma causa absolutamente necessária; senda esta o primeiro membro na
série de causas das mudanças do mundo, começaria em primeiro lugar a existência
destas mudanças e de sua série. Ora seria necessário então que ela começasse
a agir e sua causalidade cairia no tempo, por conseguinte no conjunto dos
fenômenos, isto é, no mundo. Donde se segue que a própria causa não estaria
fora do mundo, o que é contrário à hipótese”
4. Alguns
argumentam que se os elementos do universo estivessem em causalidade
recíproca, a matéria transformando-se em diversas energias para voltar em
seguida ao seu estado original e recomeçaria o ciclo indefinido de suas
transformações, portanto não requerendo um primeiro motor.
5. O
argumento, apenas provaria, no melhor dos casos, que a primeira causa
existe, não que essa primeira causa seja Deus. Em vez disso, a primeira
causa poderia ter sido qualquer um dos milhares de deuses diferentes em que os
seres humanos acreditam ou, talvez, um em que um ser humano nunca tenha
pensado. De fato, o argumento da primeira causa abre a possibilidade de que
tenha existido um Deus que criou o universo (ou talvez muitos deuses), mas que
agora Deus esteja morto.
Refutação às objeções:
1.
·
B.R Tilghman inicia sua crítica expondo o
exemplo da física aristotélica, que já está superada, e afirma que “se assim for” Deus está continuamente
pondo energia no mundo. A questão é que mesmo que Tomás afirmasse isso, o
que de fato não faz (o autor reconhece em outro lugar: “Santo Tomás nada diz sobre como Deus, o
Primeiro Motor, produz seu movimento”Idem p. 68.), não seríamos obrigados a
concordar com ele que Deus sempre põe energia no mundo. Pois como ele mesmo
afirma a 1ª Lei da Termodinâmica nos ensina o contrário, assim a essência do
argumento prevalece, pois o fato do movimento do mundo requer, como foi exposto
acima, um primeiro motor.
·
Peguemos então a teoria do Big Bang, que
afirma que de uma explosão todo o universo veio a existir. Neste caso o
Universo passou de potência a ato, do menos complexo ao mais complexo. Ora todo
efeito tem uma causa e assim a teoria do Big Bang “vale para esses estudiosos [homens respeitadíssimos nas ciências] como sinal de uma criação intencional e
inteligente” Revista Superinteressante, janeiro de 2001, p.65.
2. Jonh Hick afirma que nada nos leva a pensar que o
universo não seja ininteligível, pois o Universo poderia ter uma série infinita
e, portanto não necessitando de um princípio. Ora, se o universo estivesse
em causalidade linear ainda assim essa causalidade se referiria a
transmissão da causalidade e não à fonte desta, portanto exigiria
ainda um primeiro motor, puro ato.
3. O erro de Kant consiste em supor que o
exercício da causalidade implica, como tal, movimento e mudança na causa
(passagem de potência para ato). Ora, isto está excluído pela própria noção de
causa: a causa eficiente primeira, aquela que produz o efeito, está
necessariamente fora de mudanças que ela gera, já que estas mudanças começam
por meio dela. Assim como exposto acima o primeiro motor deve ser absolutamente
imóvel. Como o tempo é a passagem de potência para ato, e Deus é puro ato, logo
suas ações não implicam em mudança de sua natureza. O tempo, que resulta da
mudança, é ele próprio, gerado pela ação do perfeito motor imóvel, que chamamos
de Deus.
4. O conceito de causalidade recíproca não explica a origem do movimento, mas a transmissão do mesmo. Portanto ainda requer uma causa primeira, que deve ser buscada fora do universo.
5. A afirmação de que Deus pode ter morrido
contraria a razão, pois o ser perfeito, puro ato é obrigatoriamente eterno
por conceito, pois nele não há mudança. A alegação que pode ser um
ser prodigioso, mas não um ser perfeito, também é refutada pelo conceito do ser
Puro Ato exigido pelo argumento, pois é um ser não sujeito à mudança (passagem
de potência para ato).
·
Para que existisse vários deuses eles teriam que
ter qualidades que os diferenciassem, assim eles não seriam perfeitos, pois uma
qualidade que um tem , o outro não tem, fazendo-os imperfeitos. Logo não pode
existir mais de um ser perfeito
2-PROVA PELA CAUSALIDADE EFICIENTE
1. Há causas eficientes no mundo (i.e., causas produtoras)
2. Nada pode ser a causa eficiente de si mesmo, pois teria de ser anterior a si mesmo para causar-se.
3. Não pode haver uma regressão infinita de causas eficientes (essencialmente relacionadas), pois, a não ser que tenha havido uma primeira causa da série, não haveria causalidade na série.
4. Logo, deve haver uma Causa primeira, não causa da e eficiente, de toda causalidade eficiente no mundo.5.A essa causa da-se nome de Deus.
ou
1-Tudo o que se produz é produzido por outra coisa.
2- Nenhuma coisa é causa eficiente de si mesma, pois existiria antes de existir.
3- Se procurarmos por uma causa absolutamente primeira, chegaremos a uma causa cuja EXISTÊNCIA É ETERNA (pois existe antes de todas as outras coisas), ILIMITADA (pois é capaz de produzir fazer existir o que não existia) e TRANSCENDENTE a tudo que existe, (assim de natureza diferente Não material, que podemos chamar espiritual) E PERFEITA (pois tem em si a existência).
a esse ser chamamos Deus. Ainda que se recorra a hipótese de causalidade circular, onde os elementos do universo estivessem em causalidade recíproca, isto não se refere à fonte da causalidade, mas à transmissão da causalidade. Qual é a causa da existência da matéria ou energia? Essa pergunta só tem uma resposta, Deus. Ele é o princípio de todas as coisas. Exatamente como diz a Bíblia Ver Atos 19: 22-28; Gn 1:3; Cl 1:16,17.
Objeções:
1. Sartre
afirma que um ser causado por si mesmo é impossível, pois se tudo tem
causa, logo Deus tem causa, logo Deus deve ter causado sua própria existência.
2. Se
as leis causais determinam probabilidades estatísticas, ou se como Hume
argumenta as conexões causais representam simples sequências observadas
(hábito), ou como disse Kant “projeções da estrutura do espírito humano”, o
argumento falha.
3. Kant
objetou que não se pode provar que o mundo não seja eterno.
Refutação das objeções:
1.
·
Em primeiro lugar não é verdade que tudo tem
causa. Mas sim que todo efeito tem uma causa. Deus não é efeito, mas
somente causa. Se Deus tivesse causa teríamos ainda que procurar por uma causa primeira, e ele não seria Deus!! e sim a causa primeira. Todavia Deus é a causa primeira.
·
Como conseqüência Deus é um ser não causado.
2.
·
A lei da gravidade afirma que todo corpo
colocado sobre a Terra certamente cai, se não houver algo que o segure, isso
não implica em probabilidade estatística. Portanto a afirmação da objeção é
falsa.
· Alguns dizem que Hume nega o princípio da
causalidade afirmando que o que observamos é a sucessão de fatos ou a seqüência
de eventos e não o nexo causal entre eles, e assim afirmaria que a única base para
as idéias ditas gerais é a crença. A Metologia Científica se baseia em experimentos empiricamente
(descobertas de patógenos causadores de doenças, por exemplo) comprovados e
muitas vezes expressos em expressões matemáticas (física, química). Quanto ao
que se diz respeito às probabilidades ver a resposta à 2ª objeção ao argumento
Teleológico
·
A observação anterior também refuta a tese de
Kant.
3.
·
A 2ª lei da termodinâmica refuta a tese da
eternidade do mundo. Ver Prova pela Entropia, abaixo.
3-PROVA PELA CONTINGÊNCIA (possibilidade e necessidade)
O argumento a partir da contingência inicia, com fato de que, pelo menos, ser(es) contingente(s)
existe(m); ou seja, um ser (ou seres) que existe(m), mas poderia(m) não existir. Um ser Necessário é aquele que existe, mas não pode não existir. O argumento se desdobra da seguinte maneira:
(1) Qualquer coisa que existe, mas que pode/pudesse não existir, precisa necessariamente de uma causa para a sua existência, já que a mera possibilidade da existência não explica a existência de algo. A mera possibilidade de algo existir não significa nada.
(2) Porém, o nada não tem a capacidade de produzir alguma coisa.
(3) Portanto, algo necessariamente existe como base para tudo que existe e que poderia
não existir. Em suma, é uma violação do princípio da causalidade dizer que um ser
contingente é capaz de explicar a sua própria existência.
ou
1. Há seres que começam a existir e deixam de existir (i.e., seres possíveis).
2. Nem todos os seres podem ser seres possíveis, porque o que surge só o faz por meio do que já existe. O nada não pode causar algo.
3. Logo, deve haver um Ser cuja existência é necessária (i.e., alguém que nunca foi criado e jamais deixará de ser).
4. Não pode haver regressão infinita de Seres Necessários, cada um com sua necessidade dependente de outro porque:
a. A regressão infinita de causas dependentes é impossível por causa do raciocínio no argumento da causalidade eficaz.
b. Um Ser Necessário não pode ser dependente.
5. Portanto, deve haver um primeiro Ser que é necessário em si e independente de outros para existir.
ou
O mundo é
composto de seres contingentes, isto é, seres que são, mas poderiam não ser;
assim eles têm sua existência em razão de outro ser, mas se este ser também é
contingente a tem também em outro. Mas não podemos prosseguir assim até o
infinito. De ser em ser devemos chegar no final das contas, a um ser que tem em
si mesmo a razão de sua existência, um ser necessário, e pelo qual todos os
outros existem. Já que esse ser existe por si mesmo logo ele
é perfeito. A esse ser damos o nome de Deus. Exatamente como previsto na Bíblia I Co 8:6.
ou
Se existe ser contingente (como é evidente), logo algo deve ser a
base de sua contingência. Pela sua própria definição, pois, um ser contingente
não pode ser não-causado ou auto-causado; deve ser causado por outro. Mas todos
os seres não podem se causados; um Ser deve ser o Causador. E esse ser não pode
ser contingente, ou ele também seria causado. Portanto há um Ser necessário. A esse ser denomina-se "Deus". Dessa prova deduzimos a Eternidade [autoexistência] e Onipotência de Deus (pois Deus teria criado a partir do nada)
Objeções:
1.
A noção
de ser necessário exige princípio.
2.
O ser
necessário pode ser o conjunto dos seres contingentes considerados como um todo
ou sua lei imanente, dizer diferente disso é cometer a falácia da composição
(que vê as propriedades da totalidade
como tendo as mesmas características das partes, exemplo: “um time composto dos
melhores jogadores de futebol do país deve ser necessariamente o melhor do
país”)
3.
Kant
disse que a identificação
do ser necessário é uma volta ao argumento ontológico e este é falho.
4.
O ser
necessário pode ser o devir
(mudança) que seria a lei universal.
Resposta às objeções:
1.
·
Se todos
os seres fossem contingentes, nada teria sido resultado desta indiferença à
existência; portanto existe um ser necessário no mundo. Em outras palavras, para
que exista um mundo de realidades contingentes é preciso haver uma base não
contingente de sua existência. Somente uma realidade auto-existente, que
contém em si mesma sua própria fonte de existir, pode constituir o último alicerce
da existência de algo mais. Dessa forma, se há um último fundamento de alguma
coisa, deve ser um ser necessário, e a esse ser denominamos Deus.
2.
·
É claro
que nem toda soma das partes resulta nas mesmas características do todo,
porém quando se considera características imutáveis das partes o todo
necessariamente terá essa característica, exemplos: um time de homens
baixos terá sempre em sua composição a característica da baixa estatura. Como a
contingência é característica comum a todas as partes do mundo, logo o todo é
contingente. Assim a soma de seres contingentes só pode levar a conclusão que o
todo é contingente, pois o todo como tal continua afetado por uma contingência
radical. Isso é diferente do exemplo do time de futebol citado na objeção na
tentativa da refutação pois a característica de melhor do país é mutável
(depende de uma série de fatores).
·
Não
existe nenhuma lei imanente que tenha em si a idéia de necessidade, e mesmo que
houvesse, lei implica em ordem, inteligência, exigindo para si uma origem em
Deus como será visto no argumento do planejamento inteligente (Teleológico).
3.
A
existência do ser necessário foi estabelecida a posteriori (necessidade
factual) e não a priori (necessidade somente lógica, mas não factual - como
tenta o argumento ontológico). Assim de maneira alguma é uma volta ao argumento
ontológico.
4.
O devir
é a passagem de potência a ato, e isto exige um ser em ato, porque se não o devir procederia do nada,
que é ilógico.
Versão de Anselmo:
1. Algo existe, e
2. deve sua existência ao nada ou a algo.
3. O nada não pode causar algo.
4. Então, há algo que é “um” ou “muitos”.
5. Se forem “muitos”, os seres serão interdependentes para a própria existência ou dependentes de outros.
6. Eles não podem ser interdependentes para existir. Algo não pode existir por meio de um ser ao qual confere existência.
7. Logo, deve haver um ser por meio do qual todos os outros seres existem.
8. Esse ser deve existir por si mesmo.
9. Tudo o que existe por si mesmo existe no mais alto grau.
10. Logo, o Ser absolutamente perfeito existe no mais alto grau.
Versão de Alfarab:
1. Existem coisas cuja essência é diferente de sua existência. Chamadas “seres possíveis”, elas podem ser concebidas como não-existentes apesar de existirem.
2. Esses seres têm existência apenas no plano acidental, isto é, não faz parte de sua essência existir. É logicamente possível que elas jamais existissem.
3. Qualquer coisa que tenha existência acidental (e não-essencial) deve receber sua existência de outra. Já que a existência não é essencial a ela, deve haver alguma explicação para sua existência.
4. Não pode haver uma regressão infinita de causas para a existência. Já que a existência de todos os seres possíveis é recebida de outra, deve haver uma causa pela qual a existência é recebida.
5. Portanto, deve haver uma Primeira Causa de existência cuja essência e existência são idênticas. Esse é 0 Ser Necessário, e não apenas possível. A Primeira Causa não pode ser um mero ser possível (cuja essência é não existir), já que nenhum ser possível pode explicar a própria existência.
Em suma, o Ser necessário é auto- existente e portanto Atemporal e Eterno. E como criador de tudo, Onipotente.
ou
1-Existem seres cuja essência é não existir, então deve haver um Ser cuja essência é existir.
2- Seres possíveis não são possíveis a não ser que haja um Ser Necessário do qual podem receber existência.
3- E já que um ser não pode dar existência a outro quando depende de outro para existir, deve haver um Ser cuja existência não lhe foi dada por outro, mas que dá existência a todos.
ou
1-Se existem seres cuja essência é não existir, deve haver um Ser cuja essência é existir, pois as coisas possíveis não são possíveis a não ser que haja um Ser Necessário.
2-Nenhum ser passa a existir exceto se algum Ser lhe der essa existência.
3-Já que um ser não pode dar existência a outro quando é dependente de outro para a própria existência, deve haver um primeiro Ser cuja existência não lhe foi dada por outro, mas que dá existência a todos os outros.
Versão de Duns Scotos:
1. A existência é produzida (i.e., os seres são produzidos). Isso aprendemos por meio da experiência (pela observação dos seres produzidos), mas isso também é verdadeiro independentemente da experiência (i.e., isso se aplicaria a seres que não existem). Seria verdadeiro, mesmo se Deus não tivesse criado nada.
2. O produto é produzível, por si mesmo, ou por nada, ou por outra coisa.
3. Mas nenhum ser pode autoproduzi-se. Para causar sua própria existência, teria de existir antes da própria existência.
4. E algo não pode ser causado por nada. Isso é contraditório.
5. Logo, a existência é produzível apenas por algum ser produtivo. Somente seres podem produzir seres.
6. Não pode haver regressão infinita de seres produtivos, cada um produzindo a existência do seguinte, porque:
a. Isso é uma série de causas essencialmente relacionadas, não acidentalmente relacionadas, 1) onde a causa primária está mais próxima da perfeição que a secundária, 2) onde a causa secundária depende da primária para a própria causalidade e 3) onde a causa deve ser simultânea ao efeito.
b. A série infinita de causas essencialmente relacionada é impossível, porque: 1) se toda a série é dependente da causalidade (toda causa depende de uma causa anterior), então deve haver algo além da série responsável pela causalidade na série. 2) Se uma série infinita causasse o efeito, então haveria um número infinito de causas simultaneamente causando um único efeito. Isso é impossível. Não pode haver um número infinito real numa série, pois é sempre possível acrescentar mais um a qualquer número. 3) Sempre que há causas anteriores, deve haver uma causa principal (primária). Uma causa não estaria mais próxima do princípio que qualquer outra a não ser que haja um princípio. 4) Causas maiores estão mais próximas da perfeição que causas menores, e isso implica uma Causa perfeita à frente de todas as coisas menos que perfeitas. 5) A regressão infinita de causas implica imperfeição, já que nenhuma causa tem a capacidade de explicar as causas sucessivas. Mas a série imperfeita implica algo perfeito além da série por base da imperfeita.
7. Logo, deve haver uma primeira Causa produtiva de todos os seres produzíveis.
8. Essa Causa Primeira de todos os seres produzivéis deve ser única, porque:
a. É perfeita em conhecimento, e não pode haver dois seres que saibam tudo perfeitamente, pois um conheceria a si mesmo mais completamente que o outro o conheceria.
b. É perfeita em vontade; portanto, ama a si mesma mais completamente que ama tudo mais, o que significa que o outro infinito seria amado menos que perfeitamente.
c. É infinitamente boa, e não pode haver dois seres infinitamente bons, pois assim haveria mais que um bem infinito, e isso é impossível, já que não pode haver mais que o máximo.
71 argumento cosmológico
d. É infinita em poder. Se houvesse dois seres com poder infinito, isso significaria que haveria duas causas primárias totais do mesmo efeito, já que não pode haver duas causas que tenham causado, cada, tudo que há.
e. O infinito absoluto não pode ser excedido em perfeição, já que não pode haver um mais perfeito que o absolutamente Perfeito.
f. Não pode haver dois Seres Necessários, pois, para diferenciá-los, um teria de ter alguma perfeição da qual o outro carecesse (se não há diferença real, eles não são realmente diferentes). Mas tudo que um Ser Necessário tem, deve ter necessariamente. Então, o que não tem o que o outro tinha necessariamente não seria um Ser Necessário.
g. Vontade onipotente não pode estar em dois seres, pois então um poderia deixar impotente o que o outro deseja onipotentemente. Mesmo se concordassem em não impedir um ao outro, ainda seriam incompatíveis, pois cada um fosse a causa primária total e (direta) de qualquer coisa que concordassem em criar. Mas a Causa onipotente deve ser a Causa primária total (e direta) do que cria. A causa que concordar com o efeito que não crie diretamente seria apenas a causa indireta e, logo, não a Causa direta (onipotente) do efeito.